Há muitas décadas lidamos com crises econômicas e políticas no Brasil, além dos últimos meses de Covid-19 que colocaram líderes de todas as organizações em teste e ainda mais sob pressão. “Foi um MBA forçado para as lideranças, mas os líderes brasileiros têm se saído melhor do que em outros países por estarem acostumados a lidar com cenários voláteis e difíceis. O líder brasileiro tem uma adaptabilidade acima da média, uma capacidade criativa para ajustar a rota e agir com rapidez, assertividade e agilidade”, explica Gijs van Delft, CEO do PageGroup no Brasil. Cenários voláteis são marcados por adversidades que testam os profissionais na tomada de decisão. Mais rápidas, elas são cruciais para o desenrolar de uma crise e é no fator humano que estão apoiadas. “Acredito que esses momentos expõe o verdadeiro caráter liderança. As fraquezas e a falta de competências ficam expostas”, destaca Gijs. 

Como liderar o imprevisível 
72% dos líderes se dizem desconfortáveis por não saberem o futuro nem todas as respostas, conforme estudo publicado pelo LinkedIn na Europa. Em geral, é esperado que o líder tenha todas as respostas, que conheça tecnicamente 100% de seu produto ou serviço e saiba elaborar a melhor estratégia para levar a empresa adiante. “Vi líderes chegarem a níveis de gerência e c-level mas não darem certo por se distanciarem de suas equipes, mercado e de si mesmo. A intuição é um fator importante para a liderança. Por muitas vezes, ela é a base para a tomada de decisão em um cenário imprevisível. É preciso ter também coragem em não enxergar as coisas igual todo mundo”, conta Gijs. Na lista de habilidades sociais esperadas de um líder em um cenário volátil também está a escuta. As melhores ideias e soluções para um problema podem vir de todas as partes da empresa, níveis organizacionais, de clientes, concorrentes, investidores, outras organizações, setores e até países. Há cada vez mais estruturas organizacionais horizontais e de autogerenciamento que viabilizam essa prática. “Nem sempre a melhor decisão deve vir de cima. Já tomei decisões estratégicas e criei novos modelos de negócios a partir de ideias em um café com os nossos estagiários na Page, como também escutei pelo menos 30 Diretores de RH alguns anos atrás para entender o mercado e as principais necessidades num certo segmento. Buscar conhecimento, enriquecer a reflexão e convidar outras pessoas a participarem é crucial”, relembra Gijs. 

Não há liderança sem colaboração 
Diante da transformação digital e do trabalho remoto na pandemia, muitos líderes tiveram a chance de se dedicar mais às conversas individuais. 69% deles disseram que construíram relacionamentos mais próximos com a equipe e 45% se passaram a se comunicar com mais frequência, conforme estudo publicado na pesquisa do LinkedIn. “O cuidado que os líderes devem ter é com o excesso de feedback enquanto estão separados por uma tela”, alerta Gijs. É papel do líder estimular o senso de pertencimento em seus liderados, trabalhando os valores da cultura organizacional e o propósito - ou criação dele - para dar sentido às tarefas e projetos. Isso refletirá em diversidade, retenção e engajamento das equipes. Além disso, para enfrentar um cenário volátil, o líder deve ter um alto nível de colaboração com sua equipe e vice-versa. Para atingir este nível tão elevado, Gijs van Delft indica 5 elementos fundamentais: 

  1. Confiança e respeito: a sensação de segurança, especialmente em cenários voláteis, aumenta performance. Para isso, a comunicação clara, firme e transparente é fator-chave. 
  2. Propósito convincente: saber o que importa e se lembrar das razões pelas quais estão juntos na equipe e nos projetos. 
  3. Visão integral dos indivíduos: atentar para o estado físico, intelectual, emocional e espiritual daqueles que estão à sua volta. 
  4. Cultura livre de culpa: erros acontecerão quando novos caminhos forem testados. Correções entram no lugar da culpa e do julgamento. 
  5. Poder da gratidão: dar e receber fazem parte de toda relação profissional saudável. 
  6. Liderar para o futuro 

Gils

O Covid nos lembrou como a realidade pode mudar rapidamente. Ter um Plano B ou um plano de contingência que envolva as pessoas certas para a execução é crucial”, destaca Gijs. A VISÃO de longo prazo é mais que um número, são todos os objetivos de uma organização que se conectam diretamente ao propósito. Líderes devem entender a importância de construírem uma visão de longo prazo com espaço para flexibilidades e ajustes ao longo do caminho, especialmente em cenários voláteis. Além dessa visão é importante também construir um PLANO de curto prazo, ele será importante para conectar as pessoas ao proposito e ao core business e comemorar em ciclos mais curtos, principalmente em momentos de incertezas, eles serão parte da construção da visão de longo prazo.

Diante desse cenário alguns fatores importantes também devem ser considerados:

  • Planejamento de estrutura: cada vez mais as empresas estão se preparando para flexibilizar a estrutura de pessoas, trabalhando por projetos ou times temporários, recorrendo a pessoas até em outros países. O mercado de trabalho está em transformação, os profissionais e as empresas querem ser mais flexíveis e isso ajuda uma organização em cenários voláteis. 
  • Evolução digital e tecnológica: é muito importante para um líder estar atualizado em relação ao mercado, necessidades de seus clientes, inovações no setor ou em outros que podem ser utilizadas, transformações e tendências ditadas pela tecnologia. 
  • Coordenação de funções: capacidade de ajustar, dar andamento, acompanhar progresso, encadear uma atividade na outra, manter tudo harmonioso e com colaboração, tanto interna quanto externamente com fornecedores, terceiro setor etc. 

7 características para buscar em um líder 

  1. Empatia e compaixão que se traduzem em interesse em cuidar das pessoas, se comunicar com elas e entender suas fraquezas 
  2. Coerência para agir de acordo com o que fala sem falsas promessas ou atitudes contraditórias.
  3. Escutar. Um líder que escuta está aberto e disposto. 
  4. Inteligência emocional para se manter no eixo em momentos desafiadores. 5. Otimismo como força propulsora. 
  5. Criatividade para buscar soluções ou alternativas. 
  6. Foco no cliente sempre.